“Mecônio: o que devemos e o que não devemos temer”
- 20 de mai. de 2024
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Mecônio é um material fecal de cor esverdeada bastante escura, produzida pelo feto.
Quando falamos em mecônio não necessariamente estamos falando de SAM (síndrome de aspiração meconial). São duas coisas diferentes que podem ou não ocorrerem no mesmo parto, ou seja, seu bebê pode produzir mecônio durante o trabalho de parto e você irá ver o líquido escuro caso a sua bolsa já esteja rompida e, se ele vai aspirar (respirar) ou não esse mecônio depende de outros fatores. O que acontece é que os profissionais técnicos do parto que trabalham com a medicina sem se basearem em evidências, abreviam o parto levando-o para a cirurgia cesariana caso encontrem com o temido mecônio.
Entre a 10ª e a 12ª semanas de gestação o feto começa a produzir mecônio e ele engole junto com o líquido amniótico. Entre a 12ª e a 41ª semanas ele apenas pode liberar o mecônio. No final da gestação o bebê produz a motilina: hormônio que estimula o peristaltismo e consequentemente a liberação do mecônio. 50% das gestações com mais de 42 semanas possuem mecônio no líquido amniótico.
Os achados científicos nos mostram que:
· 5–10% tem mancha de mecônio no líquido amniótico
desses;
2–9% o mecônio encontra-se perto das cordas vocais;
2% tem SAM
· ou seja, apenas 2% irão aspirar esse mecônio (SAM). Os que irão a óbito serão por volta de 40% desses que desenvolveram a SAM, tendo uma taxa de mortalidade de 0,0072%; taxa relativamente baixa para justificar a adoção de protocolo específico.
O sofrimento fetal pode levar a SAM. Ocorre o seguinte, o bebê em hipóxia (falta de oxigênio) pode parar de engolir o mecônio e sim, aspirá-lo. O bebê quando passa por um problema, falta o oxigênio ele respirará dentro do útero, e caso o mecônio esteja perto do seu rosto ele pode vir a aspirá-lo. Se o bebê inalar o mecônio intraútero ele estará ofegante: gravidade para respirar, e, esse será o problema e não o mecônio em si.
Alguns exemplos de sofrimento fetal: nó no cordão = hipóxia > esfíncter anal relaxa > mecônio no líquido > por muito tempo > hipóxia prolongada > reflexo neurológico > bebê respira profundamente > inalação do mecônio (intraútero). Esse evento é chamado asfixia fetal, o bebê querendo respirar intraútero (isso pode ocorrer antes mesmo de começar o trabalho de parto). É por isso que alguns autores dizem que o mecônio não é o problema primário, e sim uma consequência de um evento que já ocorreu, algum problema que o bebê já passou ao vermos o mecônio.
Caso ocorra a aspiração, 95% dos bebês que inalam o mecônio “limpam” sozinhos seus pulmões, sem precisar de nenhuma intervenção.
As intervenções feitas em alguns casos são:
· o diluir o fluído (amnioinfusão)
· o sucção do bebê antes da 1ª respiração, porém NÃO IMPEDIRÁ A SAM (pois ela ocorre intraútero)
· o intubação para dificuldade respiratória
Devemos saber que a liberação de mecônio é a mesma em bebês asfixiados e não asfixiados.
Na Inglaterra, desde 2004, a sucção (aspirar as vias aéreas e intubação) intraparto (só com a cabeça para fora) não é feita pois não funciona e não previne a SAM. É necessário observar se o bebê está bem, saudável, respirando bem e isso é o suficiente. Guidelines, 2010, UK: não é recomendada sucção de boca e nariz com ou sem manchas no líquido amniótico.
As recomendações básicas são:
· Quando há o mecônio no líquido amniótico, indica que o bebê passou por um problema, o que não significa que ele ainda esteja nesse problema. Raramente terá um desfecho ruim.
· Bebês aspirados levam mais tempo para atingirem a oxigenação máxima. Sucção de rotina não melhora o resultado final.
Lembrar que a sucção de rotina sem real indicação é como um “estupro”.
Estimula o nervo trigêmeo, machuca o céu da boca, estimula o bebê a colocar a língua para fora, dificultando futuramente a amamentação. Se necessária intervenção o médico pediatra irá fazer a drenagem postural.
A informação é necessária para que os pais não caiam numa cesárea desnecessária nem se desesperem com o desconhecido. Tudo deve ser avaliado em conjunto com outros fatores, pois o mecônio isolado não é indicação de problema com o bebê.
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